15 de maio de 2017

Assaré sofre com a queda no nível do Açude Canoas

Canoas está com 8,88% da capacidade (Foto: André Costa/DN)
A chuva, cada vez mais escassa no Estado, tem agravado a situação dos reservatórios cearenses. Em Assaré, o Açude Canoas, um dos principais do Cariri Oeste cearense, tem sua lâmina de água reduzida a cada dia. Atualmente, segundo dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o açude está com apenas 8,88% de sua capacidade máxima. O exemplo do açude de Assaré é um reflexo dos demais. Dos 153 reservatórios monitorados pela companhia, 105 estão com volume abaixo de 30%, dos quais 38 estão no chamado volume morto e 17 são considerados secos.

"Só sabe realmente a falta que a água faz quem depende dela para tudo, inclusive para tirar o sustento de quatro filhos e uma esposa, como eu". O desabafo do agricultor Geraldo Alves da Silva, 49, feito às margens do Açude Canoas, revela a crise hídrica vivida naquele Município. "Em 2011, ele sangrou pela última vez e, de lá para cá, o nível da água só reduz", diz o agricultor.

Devido à escassez de chuva dos últimos anos, sobretudo na porção em que Assaré está situada, a maioria dos açudes da região secou ou se aproxima do volume morto. O impacto da seca é "imenso", contam os moradores do Sítio Volta, comunidade que margeia o açude outrora farto em peixes. "Isso aqui há 5, 6 anos era um mar de água a perder de vista. Tinha peixe para alimentar a região toda, se fosse preciso", recorda o jovem pescador Romário Caldas Silva, 23. Da varanda de sua residência, a poucos metros do açude, mostra os inúmeros bares e balneários fechados em decorrência da crise hídrica. "Aqui na margem do açude tinha uns seis bares. Todo fim de semana ficava lotado. De uns anos para cá, todos fecharam", explica Márcio Silvestre, dono de um dos bares que, em 2011, teve a calçada banhada pelas águas do Canoas. "A água á recuou mais de 35 metros", acrescenta.

Os prejuízos, no entanto, não se limitam aos donos de bares. Pescadores e agricultores também foram atingidos. Em maio de 2014, quando o nível do açude estava em 32%, ainda segundo dados da Cogerh, a pescaria estava em alta. Por semana, cada pescador chegava a apurar entre R$ 800 e R$ 1 mil. "Hoje, quem tirar R$ 150 por semana, pode agradecer a Deus. Os peixes estão acabando e os que ainda restam, estão bem no fundo, em busca de oxigênio", detalha Romário. Sem peixe, a alternativa encontrada pelos pescadores foi migrar para agricultura, ainda que afetada pela seca.

"Claro que sem chuva é difícil colher alguma coisa, mas é o que resta. Em um terreno que a gente tirava dez sacos de feijão, hoje só dá pra tirar quatro. A gente utiliza quase tudo para o consumo e, se sobrar, vendemos na feira", conta Geraldo Alves. Assim como ele, cerca de 80 famílias da comunidade que vivem da pesca ou agricultura foram diretamente afetadas. "Está todo mundo nessa situação. E, se a seca não acabar nos próximos anos, não sabemos como sobreviver. Neste ano o açude pegou 1 metro de água, mais ou menos, mas já parou de chover e a lâmina todo dia diminui. Preocupa", pontua o agricultor José Sebastião Firmino.

Nos três primeiros meses do ano, o volume observado pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) superou a média para o Município. Em janeiro choveu 124.1 mm (+16,8%); em fevereiro, o órgão verificou variação positiva de 18,1%, com os 150mm anotados; e, em março, choveu 224,6mm, o que representa desvio positivo de 22.2%. No mês passado, porém, a chuva deu uma trégua. Choveu apenas 55,1mm, bem distante da média para o mês, que é de 146.4mm.

Com a redução no nível do reservatório, a água que ainda resta está "verde e fedorenta", segundo os moradores. "Não dá para cozinhar. Alguns ainda arriscam tomar banho e lavar a casa, mas tem dia que o cheiro está insuportável", crítica Romário. Como alternativa, a comunidade se vale de carros-pipa que comercializam água potável. "Os carros trazem a água boa pra beber de Santana do Cariri (cidade distante cerca de 35Km) e a gente compra", acrescenta o pescador. Por semana, eles chegam a gastar entre R$ 15 e R$ 20. "Já está ruim pra sobreviver sem peixe e com a lavoura fraca, e ainda temos esse gasto comprando água", conclui o jovem.

A reportagem tentou contato com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) para saber se o abastecimento na zona urbana estaria comprometido, no entanto, o órgão não respondeu até o fechamento desta matéria. Entretanto, segundo os moradores, embora o reservatório esteja com nível diminuto, o abastecimento da cidade que dependente do Açude Canoas ainda não foi prejudicado.

Do início do ano, até ontem (14), a Cogerh já havia registrado aumento no volume de água em 131 açudes cearenses. Neste período, houve aporte de 880.510.840 m³ no volume armazenado. Considerando a estimativa do volume evaporado e o volume liberado neste período, o aumento foi de 1.323.421.885 m³. Apesar do aporte, 105 reservatórios ainda estão com volume abaixo de 30%. Uma das situações mais preocupantes é o Açude Castanhão, principal fornecedor de água para Fortaleza e Região Metropolitana (RMF). Com apenas 5,94%, o reservatório só tem água para abastecer a região até a próxima estação chuvosa, no início de 2018.


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